quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Mistério da Casa Afundada - Uma lenda sobre a Semana Santa

Durante o século 19, Paranaguá era ainda chamada de Vila, e o Rocio, de Arraial. E nessa época, o capitão-mor recebeu a visita de um vigário, e de um mensageiro do "Arraial do Rocio". Estes lhe comunicavam que estavam em Semana Santa, e nenhuma atividade profana seria de agrado à Santa Igreja. Ciente do problema, o capitão-mor proibiu toda a festa naquele dia, mandou fechar os bordéis e decretou Lei Seca durante aqueles dias.
Só que havia um problema: um cidadão, chamado Robert Inglês, que organizava o fandango (o baile típico daqui) se recusava a cancelar o baile daquele dia.
E de tanto aquele falar, os cidadãos chegaram à conclusão que era besteira obedecer tanto a Igreja quanto o capitão-mor.
E o fandando daquela quinta-feira Santa ocorreria como organizado.
uma garota, chamada Lilica, ficou em casa com o irmão, Felipe, e a avó, enquanto os pais viajariam naquele dia e só voltariam no Domingo de Páscoa. Decidida a ir ao fandango mesmo sendo na quinta-feira santa, ela e sua amiga Carminda planejaram pular a janela dos fundos da casa e fugir para o baile.
Nisso, em outra casa da região, um casal chamado Pedro e Isabel discutiam.
- Toma essa cangica, Pedrão.
- Eu num quero cangica nenhuma, Izabé! Eu quero é sargado, muié!
- Mas é quinta-feira Santa, Pedrão! Hoje é dia de jejua e orá!
- Cala a boca, Zabé! Vai pro diabo que te carregue!!
Nisso, um amigo do Robert Inglês chega na casa e chama Pedrão:
- Ei, Pedrão! O Robert Inglês tá te chamando pra tocar no fandango de hoje. Vamo?
- É pra já, cumpadre Maneco! Mior do que ficá ouvindo as bestera da Izabé!
E Isabel ficou a se lamentar, enquanto Maneco e Pedrão foram para o fandango, que aliás, já estava começando a encher.
Quando os dois chegam, logo começam a tocar. Robert Inglês e seus criados servem o caldo de cana e logo começam o grande baile.
Nisso, Lilica e Craminda se arrumam para sair. Elas verificam mais uma vez se Felipe e a vovó já dormiam, e logo pulam a janela. Elas seguem pro baile, a fim de aproveitar bastante.
As altas horas da noite, chega um misterioso cavaleiro, montado num cavalo negro. De chapéu na cabeça e terno, ele entra, e cumprimenta Robert:
- Boa noite, moço. Pode chegar, que o baile é meu. Não paga nada pra entrar.
- Obrigado, tenho certeza de que irei me divertir muito essa noite...
E logo, com sua simpatia extrema, o galanteador conquista a todos na festa, principalmente das mulheres. A festa até começou a ficar mais divertida com a sua presença.
Isabel acordou assustada.
- Ai, meu Deus! Não vo dormi até o Pedrão chegar...
Ela se levandou e foi chamar as duas filhas, Safira e Maria.
- Acordem, meninas! Vamo busca o seu pai lá no fandango, que ele deve tá torrado...
- Vamos, mamãe.
Então, o galanteador misterioso se aproxima de Lilica.
- Muito prazer. Me chamo Luce.
- Meu nome é Lilica.
E os dois dançaram, e Lilica e Luce sentiram que estavam apaixonados um pelo outro. Mas algo parou Lilica, e ela parou de dançar para falar em segredo com Carminda.
- Carminda, vamos embora, por favor!
- Por quê, Lilica? Você estava se dando tão bem com aquele mancebo...
- Eu vi fogo nos olhos daquele homem, e além do mais, tive um pressentimento de que iríamos morrer esta noite...!
- Cruz credo, Ave Maria!! Vamos embora daqui, Lilica.
Assim que Lilica e Carminda saíram do fandango, Isabel chegou com Maria e Safira.
- Olhem só que bagunça, mãe!
- Esse povo não teme a um castigo de Deus...
Então, Luce sai do escuro e grita para o povo:
- Dancem, bebam e divirtam-se, minha gente! Dancem até morrer! Ahahahahahahaha.....
De repente, quanto o relógio bateu meia-noite, a casa tremeu e afundou. Todos que estavam lá gritaram e se apavoraram, mas os únicos que saíram foram Isabel, Maria e Safira. Só um riso ecoou no ar: o riso do diabo.
De manhã, os soldados do capitão-mor foram visitar a casa junto com o padre, mas nada encontraram. A casa havia afundado completamente.


De onde aconteciam grandes festas, não restou nem um sinal sequer. O chão que era firme, se tornou um pântano medonho o triste. Um cenário grotesco do castigo divino. Assim, a lenda da casa afundada foi passada de geração em geração, ficando conhecida como "o brejo que canta". E dizem que quem passa pelo terreno baldio, próximo à companhia Santo Antônio, próximo a Estrada Velha do Rocio, durante a meia-noite de quinta para sexta-feira Santa, ainda escuta os moradores fazendo festa, junto com gritos de pavor e do riso maldito do diabo.....

A Lenda da Caveirinha

Há muitos anos atrás, na época da escravidão, havia em Paranaguá, um negro famoso por ser um baita mentiroso. Ele nunca resisitiu em contar uma mentira, e nunca econimizava. Já havia contado para a senzala inteira que já havia encontrado um peixe de tamanho gigantesco que havia lhe oferecido o mundo aos seus pés, mas este recusara.
Um dia, como de costume, esse escravo foi à Fonte Velha, a fim de buscar água para o seu patrão. Na volta, o escravo passou por uma figueira alta e, amarrado ao tronco, havia um esqueleto.
A fim de se divertir às custas do morto, ele perguntou, sme esperar resposta:
- Quem foi que te matou, caveirinha?
E, para o seu espanto, a caveira respondeu:
- Foi a línga.
Um pouco assustado, o negro fez de novo:
- Quem foi que te matou, caveirinha?
E novamente, a caveira respondeu:
- Foi a língua.
O escravo perguntou novamente, e novamente a caveira respondeu. Assim, o negro confirmou que o esqueleto falava.
O escravo apressou o passo, a fim de contar o caso para toda a senzala. Quando chegou lá, largou o pote d'água num canto e correu para contar a todos os negros que havia falado com uma caveira. Mas todos que escutaram não acreditaram nada, pois já conheciam a fama o escravo. Mas então, teve um escravo que ouviu tudo, e revelou a história para o patrão.
Cheio de ouvir as mentiras do negro, o patrão foi até a senzala com o feitor e disse à ele:
- Olha aqui, negrinho mentiroso: você vai me levar nessa figueira e falar com essa caveira. Se ela não falar, você vai ser amarrado junto com ela e vai receber 100 chibatadas nas costas!
O negro, confiante, levou o patrão e o feitor até o mato, na estrada da Fonte Velha e mostrou o esqueleto, amarrado ao tronco. Logo, o negro se ajoelhou e perguntou ao morto:
- Quem foi que te matô, caveirinha?
Mas nenhuma voz respondeu. O silêncio se apoderou do mato e fez o negro pensar na possibilidade de ser amarrado à figueira. Então, ele perguntou novamente:
- Caveirinha, minha querida... me responde, por favor! Quem foi que te matou?!
Mas a caveira não respondeu. Perdendo de vez a paciência, o patrão mandou o feitor amarrar o escravo à figueira e chicoteá-lo até o anoitecer.
E assim foi feito.
Quando as 100 chibatadas foram dadas, já era de noite e o feitor se foi, deixando o escravo amarrado junto com o esqueleto. Então, no sei leito de morte, o escravo abriu os olhos e escutou a voz da caveira em seu pescoço:
- Eu não te disse que quem me matou foi a língua?